Primeira estudante de enfermagem cadeirante da Unicamp transforma vivência na saúde em pesquisa: 'Acesso é para todo mundo'

  • 14/12/2025
(Foto: Reprodução)
1ª estudante de enfermagem cadeirante da Unicamp transforma vivência na saúde em pesquisa Aos 34 anos, Débora Ramalho Santos é a primeira estudante de enfermagem cadeirante da Unicamp. Diagnosticada com atrofia muscular espinhal (AME), ela passou grande parte da vida como paciente, mas transformou essa experiência em pesquisa sobre acessibilidade e inclusão de profissionais com deficiência na saúde. 🔎Segundo o Ministério da Saúde, a AME é uma doença rara, degenerativa, passada de pais para filhos e que interfere na capacidade do corpo de produzir uma proteína essencial para a sobrevivência dos neurônios motores, responsáveis pelos gestos voluntários vitais simples do corpo, como respirar, engolir e se mover. A graduação em enfermagem foi criada em 1978, e Débora ingressou no curso em 2020. Ao g1, ela contou que precisou conciliar os estudos com o processo de reabilitação e enfrentou desafios de acessibilidade nos prédios, laboratórios e estágios, mas contou com o apoio de professores, colegas e das equipes hospitalares. 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp Logo no início, adaptações simples fizeram diferença: banheiros foram reformados, carteiras substituídas por mesas acessíveis e passagens criadas onde antes havia degraus. Débora também atuou como ponte entre a universidade e o Centro de Reabilitação Lucy Montoro, sugerindo melhorias que beneficiaram a comunidade acadêmica. “Eu consigo fazer a mesma coisa, de uma forma um pouquinho diferente, mas que dá o mesmo resultado. Quando você passa por um degrauzinho, ele não vai te parar. Você vai seguir, vai até esquecer ou nem vai perceber. Só que, quando você está de cadeira, o degrau te barra”, diz a estudante. Débora Ramalho Santos, primeira estudante cadeirante a cursar enfermagem na Unicamp em quase cinco décadas de curso Débora Santos/Arquivo pessoal Obstáculos e adaptações Débora conta que, por ser a primeira aluna cadeirante do curso, a faculdade apresentou resistências iniciais quanto à adaptação do currículo. Surgiam dúvidas sobre como ela poderia se tornar enfermeira, participar das aulas práticas e atuar nos estágios hospitalares. “Realmente é um desafio, principalmente em questão de acessibilidade. Não tinha banheiro acessível e as pias eram altas, então não tinha como fazer a lavagem das mãos. A enfermeira, que fica no laboratório, pegava uma bacia, deixava no colo dela, e, com um jarro, eu conseguia”, diz. A estudante explica que alguns professores resistiam a dar aulas em outros prédios da instituição, dificultando o acesso. Mesmo assim, a turma dela e as equipes dos hospitais sempre ofereceram apoio. “Nunca senti nenhum tipo de preconceito, eles sempre me ajudaram muito e acreditaram em mim. Tanto que nós chegamos a uma questão com um professor, que falou que só queria dar aula em um instituto específico, mas esse lugar não era tão acessível quanto pensam e eu não sabia como chegar até lá. No primeiro dia de aula, minha turma inteira ficou dentro de uma sala e disse: 'Se ela não subir, ninguém vai ter aula, porque se a Débora não pode, a gente também não vai'. Aí, o professor teve que mudar”, conta. LEIA TAMBÉM: Cotas PCD: Unicamp aumenta em 51% o número de vagas para ingresso em 2026 Antes de usar o aplicativo na Unicamp para solicitar um carrinho de transporte interno, Débora contava com a presença diária da mãe. Como o curso é integral, elas saíam de Vinhedo (SP), onde moravam, às 7h, e só voltavam às 20h. Em 2025, a mãe de Débora morreu em decorrência de câncer e, antes de falecer, disse ver a evolução da filha e que já não tinha medo de “ir embora”. “Por ser estudante aqui, eu consegui acompanhar ela na UTI. Eles me deram acesso para entender tudo o que estava acontecendo. Foi uma equipe muito humana comigo e com minha família. Eu entrei como aluna, tive estágio na UTI, mas quando você é familiar de alguém que ama, é muito diferente. A equipe foi maravilhosa: o médico se agachava para conversar comigo, olhava nos meus olhos e puxava uma cadeira para eu sentar ao lado dele. Tudo isso faz diferença”, relata. Lucas Ramalho (pai), Débora segurando uma foto de sua mão Dalila, que faleceu, e Sarah Ramalho Santos (irmã) Débora Santos/Arquivo pessoal 'O problema não é a cadeira, é a falta de acessibilidade' Com o tempo, a mobilidade e o equilíbrio de Débora foram diminuindo, e tarefas simples para outras crianças, como andar e correr, tornaram-se cada vez mais difíceis para ela. Aos 21 anos, passou a usar uma cadeira de rodas. “A ideia partiu de mim. Tinha começado a fazer um cursinho preparatório e tinha medo de sair na hora do intervalo no meio dos colegas. Então, comecei a me isolar. Foi um momento difícil para os meus pais. Para mim, foi tranquilo, porque eu só queria continuar. Eu sabia que se eu usasse a cadeira de rodas, ia poder continuar estudando e seguindo meus sonhos”, explica. Ela também relembra a primeira vez em que saiu na rua usando a cadeira de rodas. Ao tentar entrar em várias lojas, percebeu que nenhuma tinha acesso adequado. “Até a farmácia tinha degrau. Eu comecei a chorar na calçada, no Centro da cidade”, conta. "Chorei porque não tinha acesso. A cadeira de rodas me auxilia, me ajuda. Se eu não tivesse uma, não estaria aqui, não teria começado em enfermagem ou feito técnico. O problema não é a cadeira, é a falta de acessibilidade. O acesso é para todo mundo”, relata. O contato com profissionais da saúde sempre fez parte da rotina de Débora, principalmente com fisioterapeutas. Por querer entender a condição, ela pesquisava e memorizava o que os médicos explicavam, e esse interesse foi decisivo para sua escolha pela área. “Conforme comecei a estudar, me apaixonei. Eu me lembro do dia em que cheguei para a minha mãe e falei: ‘Mãe, você sabe o que que eu tenho?’. E eu consegui explicar para ela. Ali vi o quanto eu realmente gostava da área da saúde”, relata, emocionada. Débora na apresentação do seu TCC na Faculdade de Enfermagem da Unicamp Débora Santos/Arquivo pessoal O que diz a Unicamp Em nota, a Unicamp destacou que Débora ingressou antes da criação do Programa de Atendimento Educacional Especializado (PAEE) e, desde então, a instituição precisou “criar fluxos para transpor várias barreiras, inclusive as pedagógicas e atitudinais”. O PAEE oferece “orientação acadêmica personalizada, a elaboração de planos individuais de atendimento especializado e a mediação junto a docentes e coordenações de curso”, garantindo suporte em atividades práticas e maior autonomia para estudantes com deficiência. Débora tem se beneficiado dessas iniciativas, incluindo o programa de mentoria, que acompanha estudantes com necessidades específicas. A universidade também ressaltou os esforços da Prefeitura Universitária e do Laboratório de Pesquisa Aplicada em Acessibilidade (Lapa) na implementação de soluções de acessibilidade em todo o campus. Entre as medidas, destacam-se “instalação de equipamentos de acessibilidade em sanitários, adequação de louças, reorganização de ambientes com drywall e, sobretudo, a criação de uma rota acessível completa: vaga exclusiva para cadeirante, nova calçada de concreto e acesso nivelado até o quiosque de estudos da unidade”. Além da Faculdade de Enfermagem, a universidade afirma que ampliou a rede de rotas acessíveis em pontos estratégicos do campus, incluindo rampas, travessias em nível e pisos táteis, com acompanhamento técnico do Lapa. *Estagiária sob supervisão de Gabriella Ramos. VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/12/14/primeira-estudante-de-enfermagem-cadeirante-da-unicamp-transforma-vivencia-na-saude-em-pesquisa-acesso-e-para-todo-mundo.ghtml


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