Prefeito de Sorocaba cita crise financeira e promete rigor na gestão: ‘Vamos ter que enxugar as contas’
28/11/2025
(Foto: Reprodução) Prefeito Fernando Martins comenta CPI da Saúde e situação fiscal de Sorocaba
O prefeito de Sorocaba, Fernando Martins (PSD), detalhou nesta quinta-feira (27), os desafios que encontrou ao assumir a administração municipal em 6 de novembro, após o afastamento de Rodrigo Manga (Republicanos), depois da segunda fase da Operação Copia e Cola.
Martins reconheceu que a prefeitura enfrenta uma situação financeira delicada, com déficit apontado pelo Tribunal de Contas e compromissos imediatos a serem honrados. Em entrevista ao g1 e à TV TEM, o prefeito descreveu o cenário como "preocupante".
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“Esse é um ano totalmente atípico, que nós tivemos o tarifaço, que abala bastante Sorocaba. A primeira coisa que deixa de se colher é imposto. Então judia. Nós tínhamos um orçamento, mas não vamos atingir os 100%”, disse.
Fernando ocupa o cargo de prefeito de Sorocaba desde 6 de novembro, quando Rodrigo Manga (Republicanos) foi afastado pela Justiça Federal na segunda fase da Operação Copia e Cola. A decisão da Justiça é reflexo de investigações da Polícia Federal sobre um esquema de corrupção na prefeitura.
Martins destacou que é preciso cautela para não comprometer os cofres públicos. “Conversa não paga a conta. Nós vamos ter que enxugar as contas da prefeitura”, declarou.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) já havia apontado déficit nas contas municipais. O prefeito afirmou que está reunindo informações para avaliar a real dimensão do problema.
Prefeito de Sorocaba comenta crise financeira e promete rigor na gestão
Marcel Scinocca/g1
“Nós temos muitas secretarias que precisam melhorar a produtividade e fazer economia. Vem muita alteração para ajustar a situação e ter uma prestação de contas melhor”, explicou. As medidas ainda não estão definidas. Conforme ele, está se juntando informações para definir um panorama.
Ele disse que ainda não há números fechados sobre o déficit. “Eu quero que me passem como estamos de crédito e débito. Dezembro é um mês difícil, porque não tem receita. Então, estamos apurando para começar a analisar o que precisa ser feito já”, afirmou. A apuração está sendo feita pela Secretaria da Fazenda.
O prefeito reconheceu que há compromissos a saldar. “Quando troca o governo, todo mundo que tem crédito vem correndo em cima de uma vez só. É como se fosse um comércio. Você não consegue pagar todo mundo de uma vez. Mas ninguém vai deixar de receber. Dentro do possível, a prefeitura vai pagar”, disse.
Apesar da pressão, Martins afirmou que tem recebido compreensão e que honrará todos os compromissos. “A única coisa que é uma garantia é que vai ser pago. Pode atrasar um pouco, mas vai honrar todos os compromissos”, garantiu.
Outro tema da entrevista foi o pagamento do empréstimo de US$ 56 milhões contratado em 2021, durante o primeiro mandato de Manga. “Isso já foi estudado e está dentro do projeto de pagamento. Não vai ser surpresa. Já está no orçamento da prefeitura o que deve ser pago”, disse Martins, confirmando que os valores começarão a ser quitados em 2026.
Martins disse ainda que algumas secretarias precisam de reforço para dar conta das demandas. “A Secretaria da Fazenda não tem mão de obra suficiente para responder os questionários que vêm do governo. Nós vamos dar mão de obra para isso. É esse o trabalho: ajustar para que todos possam prestar contas”, explicou.
Apesar da crise, Martins garantiu que obras como a Marginal Direita do Rio Sorocaba e o novo Hospital Municipal da Zona Norte serão mantidas. “Esses investimentos são justamente do empréstimo. Não é dinheiro da prefeitura, já vem carimbado para isso”, explicou.
Ele acrescentou que a rodoviária e outros projetos também estão assegurados. “Essas obras vão ser mantidas, porque esse dinheiro já existe para isso”, afirmou.
Sobre a Marginal Direita, Martins disse que a obra está pronta para começar, mas ainda enfrenta resistência. “É uma briga, tem o que quer e o que não quer. Eu não tenho uma opinião definida, mas sei que é uma necessidade de crescimento da cidade. Então, já que tem que fazer, quanto mais rápido, melhor”, declarou.
Já em relação ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), o prefeito afirma que não vê risco de colapso. “O Saae sempre viveu muito bem com as próprias pernas. É só ajustar um pouquinho. O recurso entra muito rápido. Então, não vai sofrer muita situação”, afirmou.
Pagamentos dos servidores públicos
O prefeito também assegurou que os servidores terão prioridade. “Sexta-feira nós temos a metade do 13º. O funcionário público tem a preferência. Vamos honrar com os créditos e direitos adquiridos 100%”, afirmou.
Ele lembrou que alguns benefícios extras não poderão ser mantidos. “A cesta de Natal, infelizmente virou inconstitucional, nós não vamos fazer. Mas os direitos adquiridos serão honrados integralmente”, disse.
“A gente sabe que vai ter que apertar o cinto. Apertar o cinto, ninguém gosta e não é bom. Mas a gente vai ter que fazer algumas restrições bastante grandes para o ano que vem para honrar todos os compromissos e deixar a situação mais saudável.”
TCE
No Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, há alertas sobre a gestão financeira da cidade. Um deles diz respeito à receita corrente da cidade. O TCE também aponta possíveis problemas da prefeitura no cumprimento das metas fiscais de 2026.
“Num primeiro momento, a gente avisa o gestor para voltar sua atenção para aquela situação. Agora, dependendo do conteúdo que foi apurado, a própria lei já pode trazer, de imediato, algumas situações para o poder público”, afirma Paulo César Alvarenga, diretor regional do TCE, em Sorocaba.
“O Município, ele constrói todo o seu sistema de políticas públicas e esses sistemas, essa execução dessas políticas públicas, necessariamente, elas vão depender de recursos. Então, a partir do momento em que não há uma boa gestão e se detecta diversas ocorrências, que ensejam essa emissão de alerta pelo tribunal, essas políticas públicas, essa execução dessas políticas públicas, ela pode ser ver comprometida.”
Prefeito de Sorocaba avalia aumentar valores do IPTU e transporte público
CPI e Operação Copia e Cola
Sobre a CPI da Saúde, Fernando disse que quer colaborar. O prefeito também comentou sobre possíveis reflexos da Operação Copia e Cola. Ele negou que vá exonerar citados na operação ou rescindir contratos com as empresas que, segundo apontado pela Polícia Federal, teriam pago propinas para servidores.
Fernando Martins também comentou sobre como foi assumir o cargo de prefeito de forma antecipada, uma vez que o programado era ele assumiria a cadeira em 6 de abril de 2026.
“Foi um choque para gente, a mudança radical do jeito que aconteceu. Mas eu tenho 73 anos e só tenho a agradecer o que recebi da cidade. Agora, faço esse sacrifício para devolver um pouco do carinho que recebi”, afirmou.
IPTU e transporte
Prefeito de Sorocaba (SP), Fernando Martins (PSD), durante entrevista para o g1
Marcel Scinocca/g1
Martins explicou ao g1, nesta quinta-feira (28), que o valor do IPTU será defasado e, por isso, um reajuste seria justificado.
“Nós estamos sem aumentar o IPTU desde 2019. Quer dizer, não funciona. Se você for diminuindo o recurso, automaticamente você vai diminuir o pagamento também. Então, eu acredito que nós vamos ter que reajustar alguma coisa por necessidade. Contrariado, mas vamos ter que fazer alguns ajustes na cidade, de taxa, de impostos que estão defasados”, explicou.
O prefeito disse ainda que não há definição sobre o percentual de aumento. “Não tem ainda o valor. Estamos no estudo, e será uma briga também. Porque um quer mais, o outro quer menos. Quer dizer, e a gente tem que fazer o mínimo possível, porque a gente sabe da dificuldade que tá vivendo a população, a restrição financeira cada dia maior. Então, a gente vai ter bastante cautela para que seja o mínimo possível”, explicou.
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Sobre o transporte público, Martins reconheceu que o setor também precisa de reajuste pelo mesmo motivo: a defasagem nos valores.
“Transporte público também está defasado. E não adianta. Se você deixar de reajustar, cada dia você vai dar menos qualidade no serviço. Eu sempre falo, se você vai almoçar, é melhor que aumente o preço do restaurante do que ele diminua a qualidade. E a gente, dentro das necessidades, vai ter reajuste porque nós queremos manter a qualidade e até melhorar a qualidade”, disse.
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