CPI dos Pancadões pede condução coercitiva para que influenciador Buzeira deponha em SP
16/10/2025
(Foto: Reprodução) O influencer Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira.
Divulgação/Redes Sociais
A CPI dos Pancadões da Câmara Municipal de São Paulo pediu a condução coercitiva do influenciador Bruno Alexander Souza Silva, conhecido como Buzeira, para ele prestar depoimento à comissão. A determinação foi feita nesta quarta-feira (16) pelo presidente da CPI, vereador Rubinho Nunes (União Brasil).
Segundo o parlamentar, Buzeira foi intimado duas vezes para depor, mas não compareceu a nenhuma das oitivas, desrespeitando as convocações oficiais. O vereador afirma que a convocação do influenciador se tornou "ainda mais necessária" após ele ter sido alvo de operação da Polícia Federal nesta semana.
“O elemento de nome Bruno Alexander Souza Silva, vulgo Buzeira, foi regularmente intimado e optou por desrespeitar esta comissão por duas vezes. Determino à Procuradoria que providencie, no imediato, o pedido de condução coercitiva do sujeito”, afirmou Rubinho Nunes.
Com mais de 15 milhões de seguidores, Buzeira ganhou fama nas redes sociais promovendo rifas e sorteios de carros, artigos de luxo e ações promocionais. Ele foi preso pela Polícia Federal (PF) na terça-feira (14) em operação para desarticular um esquema de lavagem de dinheiro vinculado ao tráfico internacional de drogas.
Convidados do casamento de Buzeira reclamaram de ‘arrastão’ e ‘assalto’ de relógios
Segundo Nunes, caso o influenciador aceite a convocação, poderá participar voluntariamente. Se não houver manifestação, será conduzido pela Polícia Penal até a Câmara Municipal.
A CPI dos Pancadões apura a relação entre eventos de rua, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e o uso de artistas e influenciadores digitais na promoção de atividades criminosas. O pedido de condução coercitiva deve ser formalizado pela Procuradoria ainda nesta semana.
Procurada, a defesa do influenciador não respondeu ao g1 até a última atualização desta reportagem.
A respeito da operação da PF, o advogado Jonas Reis, que cuida da defesa de Buzeira, disse que "não há, até o presente momento, qualquer elemento concreto que comprove envolvimento do influenciador em atividades ilícitas".
Segundo o advogado, Bruno Alexssander Souza Silva "é trabalhador, possui residência fixa, fonte de renda lícita e atua há anos de forma pública e transparente nas redes sociais, sendo reconhecido nacionalmente por sua atividade profissional como criador de conteúdo digital".
"A defesa confia no pleno esclarecimento dos fatos e na Justiça Brasileira, reafirmando que não há, até o presente momento, qualquer elemento concreto que comprove envolvimento do influenciador em atividades ilícitas. Reiteramos o pedido de respeito à presunção de inocência, ao devido processo legal e à imagem do investigado, evitando-se especulações e julgamentos precipitados”, afirmou a nota.
O vereador Rubinho Nunes, cassado por divulgar laudo falso contra o candidato Guilherme Boulos (PSOL).
Douglas Ferreira /Rede Câmara
Bate-boca com professor
Em agosto, a CPI dos Pancadões terminou em bate-boca entre o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) e o professor Thiago Torres, conhecido como "Chavoso da USP" e que foi convocado para depor.
Na sessão, o vereador chegou a ameaçar dar “voz de prisão” ao youtuber por "testemunho falso" (veja vídeo acima).
Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Torres é conhecido na internet por criticar a criminalização da juventude negra e periférica e por abordar o preconceito contra o funk e as dificuldades enfrentadas por jovens das periferias para acesso à educação superior.
Durante o depoimento, Nunes quis saber ser Chavoso reconhecia a existência do crime organizado nas periferias. O youtuber respondeu que o crime organizado “existe em todo lugar”, inclusive “dentro desta Casa”, referindo-se à Câmara.
A declaração gerou reação imediata. O vereador rebateu, pedindo que o youtuber apontasse quem seriam os parlamentares ligados ao crime. Mas Chavoso permaneceu em silêncio.
“Quem é o parlamentar ligado ao crime organizado para que eu possa levar à Corregedoria?”, perguntou Nunes. “Qual é o vereador ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC)?"
O vereador Rubinho Nunes (União Brasil) bateu boca com o chamado 'Chavoso da USP' durante a CPI dos Pancadões,
Douglas Ferreira/Rede Câmara SP
A discussão se intensificou e foi preciso intervenção dos outros vereadores da comissão para acalmar os ânimos.
Em determinado momento, o vereador disse que mandaria recuperar, na gravação da sessão, o momento em que Chavoso insinuou a ligação de algum parlamentar ao crime organizado. Nunes disse que se ele negasse o que disse, “sairia preso”.
Antes do bate-boca, o vereador havia perguntado se o youtuber repudiava a atuação de grupos criminosos, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).
Chavoso rebateu dizendo que a pergunta “não tem nada a ver com baile funk” e afirmou que há uma “perseguição contra o gênero”.
Ao encerrar a sessão, o vereador solicitou que a Câmara encaminhasse a gravação da fala do professor ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), alegando a necessidade de “adoção das medidas legais por possível falso testemunho”.
Procurada, a Câmara Municipal não respondeu se acionou o MP-SP até a última atualização desta reportagem.
Por meio de nota, o vereador Rubinho Nunes disse que o depoente da CPI "preferiu usar o espaço da Câmara para autopromoção, negando a presença do crime organizado e desrespeitando o sofrimento de quem vive na periferia".
"A CPI dos Pancadões tem um objetivo muito claro: acabar com essas festas ilegais e levar os responsáveis à Justiça, especialmente os membros do PCC que estão por trás delas. O depoente é responsável pelo que faz e infelizmente preferiu usar o espaço da Câmara para autopromoção, negando a presença do crime organizado e desrespeitando o sofrimento de quem vive na periferia. Meu compromisso não é com bravatas, mas com a verdade, com a lei e com a população que sofre diariamente com o barulho, a insegurança e a violência gerados pelos pancadões", disse o parlamentar.
Depoimentos
As audiências da CPI dos Pancadões já ouviram, desde junho, depoimentos do produtor musical Henrique Alexandre Barros Viana, o “Rato”, da produtora Love Funk, e agora do professor e youtuber Thiago Torres, o “Chavoso da USP”.
Ambos foram convocados para esclarecer suspeitas de ligação com o crime organizado, presença de adolescentes nos bailes, hipersexualização nas músicas, consumo de drogas e bebidas alcoólicas nesses eventos.
Chavoso, que havia criticado a criação da CPI em um podcast em junho, disse que sua convocação à comissão foi uma tentativa de a comissão “ganhar visibilidade” às custas de sua imagem.
"A CPI quer aproveitar minha visibilidade para ganhar seguidores nas redes sociais, produzindo conteúdos com cortes de vídeos. Isso tem a ver com a criminalização da juventude negra e periférica da qual faço parte", disse.
Rubinho Nunes, por sua vez, justificou as perguntas alegando que investigações encontraram indícios de que adegas e tabacarias estariam ligadas à lavagem de dinheiro do crime organizado.
Na visão do professor, no entanto, há uma perseguição contra o gênero musical.
“Vou discordar da associação ao crime feita com o funk e o baile funk. As festas que acontecem nas favelas nos sábados, sextas às noites, com música alta, não é só funk. Temos sertanejo, forró, samba, a favela tem diversas culturas, não se restringe só ao funk. Quando [a CPI] se limita a investigar e associar somente o funk é uma perseguição ao gênero."
Após o depoimento, o presidente da CPI disse que é importante ouvir as pessoas que moram nas comunidades para contribuir com o trabalho do colegiado. Ele também disse que a CPI foi prorrogada por mais 120 dias dada a "complexidade do problema."
A reunião do colegiado foi conduzida pelo presidente da comissão, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil). Além dele, participaram os parlamentares Kenji Ito (Pode), Lucas Pavanato (PL), Cris Monteiro (Novo), Amanda Paschoal (PSOL) e Keit Lima (PSOL).
Plenário da Câmara Municipal de São Paulo.
Richard Lourenço/Rede Câmara